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O atual cenário do mercado de alimentos minimamente processados – Pet Food

Entrevista exclusiva com Luciana Domingues de Oliveira

 A médica-veterinária e membro do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal Pet (CBNA PET) e da Sociedade Brasileira de Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos (SBNutriPet), Luciana Domingues de Oliveira, participou recentemente do XXIII Congresso CBNA Pet, realizado paralelamente à FENAGRA 2024, conduzindo a palestra Alimentos Minimamente Processados, Freeze-Dried e Desidratados: Desafios no Desenvolvimento. O assunto ganha destaque também nessa entrevista com a profissional que tem Mestrado e Doutorado na área de Nutrição de Cães e Gatos pela UNESP de Jaboticabal (SP) e que acumula 22 anos de experiência na área de Nutrição e Nutrologia de cães e gatos. Confira!

O atual cenário do mercado de alimentos minimamente processados - Pet Food

 “No Brasil, ainda temos pouca oferta, mas os alimentos minimamente processados  começaram a ganhar evidência nos últimos 5 anos”, Luciana Domingues de Oliveira.

 

Revista Pet Food Brasil – Qual é a definição dos alimentos minimamente processados?

Luciana Domingues de Oliveira – Na realidade não existe uma definição em pet food. Mas, podemos destacar as características desses alimentos, como sendo os integrais (cereais, frutas, legumes, verduras); as carnes e vísceras frescas; com ausência de aditivos sintéticos; produzidos a partir de processos térmicos mais ‘gentis’ e clean label (número limitado de ingredientes).

 

Revista Pet Food Brasil – Quais são os tipos de alimentos minimamente processados para pets?

Luciana Domingues de Oliveira – São considerados alimentos minimamente processados para pets, as dietas cruas (congeladas ou freeze-dried); as dietas frescas cruas ou cozidas (refrigeradas); as desidratadas (freeze-dried, air dried) e as cozidas (congeladas ou shelf-stable).

Revista Pet Food Brasil – Hoje em dia, qual é o cenário encontrado, no Brasil, em relação a esses alimentos disponibilizados aos animais de estimação?

Luciana Domingues de Oliveira – O Brasil ainda engatinha no que se refere a alimentos minimamente processados para cães e gatos. E o pouco que vemos foca na produção de alimentação caseira cozida – também chamada de alimentação natural cozida – autoclavada ou esterilizada por irradiação Gama.

 

Revista Pet Food Brasil – Quando teve início, no mundo e por aqui, essa movimentação em direção aos alimentos minimamente processados?

Luciana Domingues de Oliveira – Não tenho dados precisos, mas minha percepção após visitas aos pet shops nos Estados Unidos e Europa, é que esse tipo de produto começou a ter destaque de forma bem expressiva nos últimos 5 e 8 anos. No Brasil, ainda temos pouca oferta, mas esses alimentos começaram a ganhar evidência nos últimos 5 anos.

 

Revista Pet Food Brasil – Mundialmente, como os alimentos minimamente processados estão posicionados?

Luciana Domingues de Oliveira – Eles ganharam força nos EUA e na Europa nos últimos anos, estando presentes em uma parcela significativa dos pet shops destas regiões. Há diversos fabricantes e uma grande diversidade de produtos secos e úmidos, completos ou petiscos, têm apelo ao “mais natural e saudável”, atendem a tutores mais exigentes e apresentam um preço mais elevado.

 

Revista Pet Food Brasil – Especificamente em relação às ofertas, no Brasil, qual é a atual realidade? As empresas mostram-se empenhadas e/ou interessadas? 

Luciana Domingues de Oliveira – No Brasil, o movimento que vemos é o famoso “mais do mesmo!” Temos centenas de fabricantes de pet food, somos uns dos maiores mercados mundiais, mas toda nossa produção de alimentos secos é extrusada. Acredito que as empresas brasileiras ainda não olharam para esse mercado de alimentos minimamente processados como algo atrativo financeiramente e, por isso, continuam sem investir no desenvolvimento deles.

 

Revista Pet Food Brasil – Em termos de palatabilidade, digestibilidade e qualidade das fezes, qual a avaliação dos benefícios que esses alimentos oferecem?

Luciana Domingues de Oliveira – Em termos nutricionais eles são superiores aos alimentos extrusados super premium por não utilizarem subprodutos animais ou vegetais. Possuem maiores teores de proteínas e gorduras, inclusão de carnes e vísceras frescas como principal fonte proteica e isso leva à digestibilidade desse tipo de alimento para mais de 95%. Consequentemente, as fezes são menores e com menor odor. E a palatabilidade também costuma ser muito boa, mas nem sempre é maior que dos alimentos extrusados, por não conter palatabilizantes e aromatizantes.

 

Revista Pet Food Brasil – Há contraindicações?

Luciana Domingues de Oliveira – Depende. Quando falamos de alimentos que sofreram algum tipo de processo de esterilização não existe contraindicações. Entretanto, há produtos crus vendidos de forma congelada ou desidratada pelo frio (freeze dried) que não sofreram processos de esterilização e, nesse caso, sempre existe o risco desses alimentos terem contaminações com microrganismos e parasitas. Mas, as empresas que trabalham com alimentos crus estão investindo cada vez mais em processos de esterilização para tornar os alimentos mais seguros para tutores e pets.

 

Revista Pet Food Brasil – Qual é o perfil dos tutores que buscam esse tipo de alimento?

Luciana Domingues de Oliveira – Estamos diante de um nicho de mercado, sem dúvida alguma. O perfil é daquele tutor que quer oferecer o melhor e mais saudável alimento para seu pet, mas não tem tempo e nem vontade de fazer por conta própria. Está disposto a gastar mais do que com uma ração super premium convencional.

 

Revista Pet Food Brasil – Sobre os preços praticados o que poderia ser dito sobre esses alimentos?

Luciana Domingues de Oliveira – Como não temos ainda esses produtos no Brasil, não há como estimar a diferença em relação, por exemplo, às rações comerciais. Se olharmos os mercados da Europa e EUA percebemos uma amplitude de preço entre as marcas, o que dificulta essa avaliação. Mas, podemos observar que esses alimentos costumam ser mais caros quando comparados aos extrusados super premium.

 

Revista Pet Food Brasil – Em relação aos diferentes desafios apresentados para a produção destes alimentos, quais são aqueles mais complexos de ser vencidos e, no Brasil, como você avalia a questão?

Luciana Domingues de Oliveira – São vários aspectos a serem considerados. Todas as etapas de desenvolvimento e produção são desafiadoras, porque não temos expertise nesse tipo de produto. Há pontos importantes a serem considerados, como:

  • mão de obra
  • equipamentos e os seus custos (normalmente são equipamentos usados na indústria alimentícia humana para a produção de nuggets, almôndegas, embutidos e hamburguer)
  • questões de controle microbiológico
  • matérias-primas (há elevada necessidade de carnes frescas: carnes, vísceras, carcaças, partes com ossos; inclusão de alimentos com maior valor agregado: tubérculos, frutas, vegetais; não são usadas farinhas animais ou subprodutos de ingredientes como milho, soja e trigo e não são usados transgênicos)
  • é necessário transporte refrigerado de carnes e vegetais frescos;
  • armazenamento congelado ou refrigerado, exigindo espaço e gasto com energia
  • riscos aumentados com perdas de alimentos frescos
  • embalagens (é preciso material adequado; tem a questão do tamanho que deve ser de acordo com o processo de cozimento ou esterilização empregada; pode ser que seja necessário suportar as temperaturas de retorting – cozimento e ainda ser uma embalagem atraente para mostrar o diferencial do produto)
  • tem também a questão financeira dos tutores e a disponibilidade de pagar por estes alimentos.

 

Revista Pet Food Brasil – Especialmente em relação ao processo de congelamento profilático para reduzir a carga microbiana e parasitária desses alimentos, qual a sua avaliação?

Luciana Domingues de Oliveira – O congelamento profilático é o nome que se dá ao processo de congelar carnes e vísceras de animais durante alguns dias para se obter redução da carga microbiana e parasitária desses alimentos, sem ter que submetê-los ao processo térmico, a fim de preservar suas características nutricionais. A questão é que quando esse processo é feito no ambiente doméstico, em freezers convencionais, apenas algumas formas de parasitas são efetivamente mortas e as bactérias muito pouco ou quase nada sofrem com o processo. O congelamento profilático é muito falado e preconizado por profissionais defensores de dietas cruas, mas por sua baixa eficiência, apenas servem para dar a falsa ilusão aos tutores de que aquele alimento é seguro. E justamente por isso que nos EUA e Europa, os grandes fabricantes de dietas cruas estão investindo em processos não térmicos de esterilização de alimentos, como o HPP (High Pressure Production), visando garantir mais segurança microbiológica aos produtos.

 

Revista Pet Food Brasil – Qual é a conclusão que se chega em relação a este mercado?

Luciana Domingues de Oliveira – Podemos apontar alguns importantes aspectos a serem avaliados, dentre eles: a qualidade é superior da maioria dos ingredientes (human-grade); os processos industriais usados causam menos perdas de nutrientes; esses alimentos tendem a ser mais digestíveis que as rações extrusadas; eles podem ser mais benéficos aos pets (ainda faltam estudos); muitos tutores e profissionais gostariam de usar mas não pagariam pelo produto; há dependência de freezer e geladeiras nos pontos de vendas e trata-se de um nicho de mercado encarado como the crème de la crème.

 

Por: Lia Freire

Entrevista exclusiva da Revista Pet Food Brasil – Edição Julho/Agosto 2024.
Proibido a reprodução total e/ou parcial sem autorização da Editora Stilo

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