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Biocolina vegetal: Uma alternativa ao uso de cloreto de colina em alimentos para cães e gatos

A colina é um nutriente essencial para a estrutura e metabolismo celular, sendo precursora da fosfatidilcolina e lecitina, além de desempenhar um papel fundamental no metabolismo dos lipídios, especialmente no fígado. Ela é referida como um fator lipotrópico, pois impede o acúmulo anormal de ácidos graxos no tecido hepático, evitando a lipidose hepática (Bertechini, 2004).

Conhecida como vitamina B4, a colina é encontrada em praticamente todos os ingredientes utilizados na formulação de alimentos para cães e gatos, com maior disponibilidade nos produtos de origem animal, principalmente na farinha de vísceras de aves.

A classificação da colina como vitamina do complexo B é controversa, pois ela não participa do metabolismo como coenzima e é exigida em quantidades superiores às outras vitaminas do complexo B (Bertechini, 2013). Além disso, ao contrário das outras vitaminas do complexo B, a colina pode ser sintetizada no fígado pelos animais a partir do aminoácido serina, na presença de ácido fólico e vitamina B6, conforme destacado por Reis et al. (2012).
Considerando suas funções orgânicas, a colina não parece se encaixar perfeitamente na definição de vitamina, sugerindo que talvez ela deva ser considerada uma amina essencial (Bertechini, 2013).

A recomendação nutricional de colina para cães varia de 1.640 a 1.890g/1.000g de matéria seca de alimento. Enquanto para os gatos, a recomendação varia entre 2.400 e 3.200g/1.000g de matéria seca de alimento. Esses valores dependem da fase de vida e das necessidades energéticas de manutenção do animal, conforme FEDIAF (2021).

Essas recomendações geralmente são parcialmente atendidas pelos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos. No entanto, dependendo da quantidade de ingredientes de origem animal, ainda pode ser necessário suplementar com cloreto de colina. Este sal composto é produzido por síntese química e amplamente utilizado na indústria de alimentos para animais.

De acordo com Leeson e Summers (2001), Combs Jr. (2008) e Rutz (2008), a forma em pó do cloreto de colina é altamente higroscópica e pode acelerar a degradação de outras vitaminas quando em contato com estas. Por outro lado, a forma líquida do cloreto de colina é altamente corrosiva, exigindo equipamentos especiais para manuseio e armazenamento (Mcdowell, 2000). Essas características tornam o manuseio do cloreto de colina na fábrica de alimentos ou premix desafiador, podendo comprometer sua pré-mistura com outros microingredientes e resultar na perda de vitaminas (Mallo e Paolella, 2017).

A colina é naturalmente encontrada nos alimentos, principalmente na forma de fosfatidilcolina. Essa substância é composta por dois ácidos graxos esterificados e a própria colina. Segundo Leeson & Summers (2001), Combs Jr (2008) e Rutz (2008), menos de 10% da colina presente nos alimentos é encontrada na forma livre ou como esfingomielina, que são análogos da fosfatidilcolina contendo esfingosina em vez de ácido graxo.
Além disso, a colina também está presente em plantas na forma de fosfatidilcolina, colina livre e esfingomielina. Atualmente, existem produtos naturais derivados de plantas selecionadas que possuem alto teor de colina na forma esterificada, oferecendo alta biodisponibilidade, o que pode ser uma importante alternativa ao uso de cloreto de colina sintético.

Uma dessas fontes alternativas de colina, chamada de biocolina vegetal, são provenientes de extrato vegetais de plantas como Trachyspermum ammi, Citrullus colocynthis, Achyranthes aspera, Azadirachta indica, Acacia nilótica, Silybum marianum, Andrographis paniculata e Ocimum sanctum. Vale ressaltar que a composição das biocolinas vegetais comerciais disponíveis no mercado podem variar entre os seus fornecedores.

O fato de a biocolina vegetal apresentar baixa higroscopicidade é positivo, pois isso leva a menores perdas de vitaminas hidrossolúveis quando adicionada ao premix, comparado ao cloreto de colina. Isso se deve à diminuição do teor de água livre na mistura, resultando em um menor potencial reativo. Além disso, o excesso de água pode ocasionar problemas operacionais nas fábricas de alimentos para cães e gatos.
Embora haja poucos estudos em animais de companhia, a biocolina vegetal tem sido utilizada com sucesso em frangos de corte e galinhas poedeiras, demonstrando resultados favoráveis na conversão alimentar, produção e peso dos ovos (Chen, 2007; Calderano, 2015).

Em um estudo conduzido por Mallo e Paolella (2017) com 40 cães da raça beagle, foram avaliadas três dietas: uma com inclusão da fonte herbal de colina, outra com cloreto de colina e a terceira como controle negativo. Os resultados mostraram que não houve diferenças significativas na preferência dos cães pelas dietas, na qualidade e quantidade de fezes, nem no perfil proteico sanguíneo. No entanto, foi observada uma diminuição nos valores de triglicerídeos e HDL nas dietas com suplementação de colina em comparação ao controle negativo.

Já Mendoza-Martínez et al. (2022) realizaram um estudo com os seguintes tratamentos: dieta não suplementada (377 mg colina/kg), cloreto de colina (3.850 mg/kg equivalente a 2.000 mg de colina/kg de dieta), e biocolina vegetal ((200, 400 e 800 mg/kg) por 60 dias. Os resultados indicaram que a resposta foi semelhante com as duas fontes de colina, mas a biocolina vegetal demonstrou propriedades adicionais, como prevenção de doenças cardiovasculares e metabólicas, prevenção do câncer, resposta inflamatória e imune, além de influenciar o comportamento e processos cognitivos em cães.

Nascimento et al. (2022) concluíram que a biocolina vegetal avaliada pode substituir o cloreto de colina na nutrição de cães, pois não prejudicou o metabolismo lipídico e outras funções do organismo. Pelo contrário, observou-se melhora em algumas funções, especialmente pela redução significativa nas enzimas hepáticas, colesterol total e triglicerídeos.

Erika Stasieniuk*
Consultora Técnica, SFA Consultoria.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bertechini, A.G. Nutrição de Monogástricos – Lavras :Editora UFLA/FAEPE, p. 450, 2004.
Bertechini, A.G. Nutrição de monogástricos. Lavras: Ed. UFLA, 369p, 2013.
Calderano, A. A.; Nunes, R. V.; Rodrigueiro, R. J. B.; César, R. A. Replacement of choline chloride by a vegetal source of choline in diets for broilers. Ciência animal brasileira, v.16, n.1, p. 37-44, 2015.
Combs Jr. G.F. The Vitamins: Fundamental Aspects in Nutrition and Health. 3th ed. Cornell University, Division of Nutritional Sciences, 583p, 2008.
FEDIAF. The European pet food industry. Disponível em: https://europeanpetfood.org/self-regulation/nutritional-guidelines/, 2021.
Leeson, S.; Summers, J. COMMERCIAL POULTRY NUTRITION. 4 ed. Guelph: University Books, 2001
Mallo, G.D.; Paolella, M. Fuente Herbal de Colina em nutrición canina. Congresso Argentino de Nutrição Animal, Buenos Aires, 2017.
Mcdowell, L.R. Vitamins in animal and human nutrition, 2nd edição, Academic Press, 2000.
Mendoza-Martínez, G.D.; Hernández-García, P.A.; Plata-Pérez, F.X.; Martínez-García, J.A.; Lizarazo-Chaparro, A.C.; Martínez-Cortes, I.; Campillo-Navarro, M.; Lee-Rangel, H.A.; De la Torre-Hernández, M.E.; Gloria-Trujillo, A. Influence of a Polyherbal Choline Source in Dogs: BodyWeight Changes, Blood Metabolites, and Gene Expression, Animals, 12, 1313, 2022.
Nascimento, R.C.D.; Souza, C.M.M.; Bastos, T.S.; Kaelle, G.C.B.; Oliveira, S.G. D.; Félix, A.P. Effects of an Herbal Source of Choline on Diet Digestibility and Palatability, Blood Lipid Profile, Liver Morphology, and Cardiac Function in Dogs. Animals, 12, 2658, 2022.
Rutz, F. Absorção de vitaminas. In: MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. 2 ed. Jaboticabal: FUNEP/UNESP, p. 149-166, 2008.
*Erika Stasieniuk é Zootecnista e Doutora em Nutrição e Alimentação de cães e gatos pela UFMG. É sócia fundadora da SFA Consultoria que tem como objetivo ajudar as empresas de alimentos e ingredientes para cães e gatos a desenvolverem seus produtos e fabricarem um alimento seguro e de qualidade. Contato: [email protected]

PUBLICAÇÃO EXCLUSIVA DA REVISTA PET FOOD BRASIL.
PROIBIDO A REPRODUÇÃO TOTAL E/OU PARCIAL SEM AUTORIZAÇÃO DA EDITORA STILO

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