O experiente zootecnista compartilha a sua visão e faz uma análise sobre o mercado de ingredientes e nutrientes energéticos utilizados na nutrição animal.
Formado pela Unesp de Botucatu, com Mestrado em Dairy Science pela Universidade do Missouri (EUA) e Doutorado em Nutrição Animal pela Universidade da Florida – Gainesville (EUA), o zootecnista Francisco Olbrich atual Diretor de Negócios para ruminantes da Trouw Nutrition do Brasil, teve a sua carreira profissional desenvolvida em empresas como Purina onde foi Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Guabi Nutrição Animal como Diretor-Executivo, Novus onde ocupou o cargo de Diretor de Negócios, também foi Sócio-Presidente do Grupo HJ Baker do Brasil, companhia proprietária da Allnova Nutrição Animal e Membro do Conselho de Diretores da Matsuda para o segmento de pet food.
Com uma respeitada trajetória e formação profissional, Francisco fala sobre o importante mercado de ingredientes e nutrientes energéticos, as demandas, os desafios e a evolução do setor. Confira!
Revista Ingredientes & Nutrientes – O que são e quais são os ingredientes e nutrientes energéticos?
Francisco Olbrich – São alimentos ricos em energia e pouca proteína bruta, tais como, milho, sorgo, milheto, gérmen de milho, polpa cítrica, farelo de trigo, farelo de arroz, aveia e outros subprodutos.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Qual a sua opinião em relação ao atual momento, mundialmente falando, do setor de ingredientes e nutrientes energéticos para as demandas do setor produtivo e para os animais de estimação?
Francisco Olbrich – Estamos ainda sentindo os reflexos do auge da pandemia que interferiu negativamente na economia global, deixou uma alta inflação, elevou o preço das commodities, culminou na falta de matéria-prima e no baixo consumo de alimentos. Temos ainda a guerra na Ucrânia, não apenas um desastre social, como econômico, uma vez que o país produzia 42 milhões de toneladas de milho e exportava 34 milhões de toneladas. Não só as exportações foram prejudicadas como o plantio da nova safra.
O trigo foi outro grão que chegou a aumentar mais de 36%, com isso, o impacto na nutrição animal foi grande, elevando o custo da produção de carnes e leite. Houve ainda impacto no custo dos alimentos para os animais de estimação, levando os tutores a migraram para produtos mais econômicos. A solução para o setor de nutrição animal foi buscar ingredientes alternativos com o objetivo de segurar os custos.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Em relação ao Brasil qual o cenário? Como estamos posicionados no setor de ingredientes energéticos na nutrição animal?
Francisco Olbrich – Estamos sofrendo as consequências da pandemia. Os preços das matérias-primas tiveram altas significativas nos últimos dois anos com o aumento nos custos de produção. Para se ter uma ideia, em janeiro de 2020 o preço da saca do milho girava em torno de R$ 40 e R$ 60 e agora está entre R$ 80 e R$ 100. Os seus subprodutos como o gérmen de milho acompanharam o mercado. Agora estamos passando por um período com tendência de baixa e isso tem a ver com a segunda safra de milho que deve ser de 86 milhões de toneladas, de acordo com as estimativas da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento, um aumento de quase 44%.
Entretanto, podemos ter que pagar um “prêmio” para este milho ficar por aqui, então se por acaso as exportações pelo grão aumentarem não perceberemos. No segundo semestre de 2022 ainda iremos nos deparar com a elevação dos preços das commodities em meio a custos elevados.
Sobre o uso de ingredientes energéticos na nutrição animal, este continua forte no Brasil. Os confinadores, neste ano, estão trabalhando com milho e sorgo. A polpa cítrica ficou cara, os produtores de polpa preferem exportá-la e, com isto, o pouco que permanece no mercado não tem preço atrativo. A casca de soja foi outro ingrediente que ficou difícil de encontrar. Com a alta do boi, os produtores têm optado pelo uso de produtos mais tecnológicos e que têm na fórmula ingredientes energéticos que ajudam a aumentar o ganho de peso.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais são as atuais demandas no Brasil e as novidades para atender o setor de nutrição animal em termos de ingredientes energéticos?
Francisco Olbrich – A demanda por grãos energéticos pelo segmento de nutrição vem sendo muito forte desde o final de 2020, lembrando que a suinocultura e avicultura usam principalmente o milho e a soja em suas dietas. A febre suína na China fez com que as exportações de carne do Brasil aumentassem significativamente. A carne bovina foi outro segmento beneficiado pelas exportações chinesas.
Os produtores de boi têm optado pelo uso de ingredientes mais tecnológicos, energéticos e proteicos que ajudem a aumentar o ganho de peso. E, quando falamos em produtos tecnológicos, temos que mencionar os aditivos como promotores de crescimento que não só otimizam o uso da energia, evitando problemas metabólicos, mas também reduzem a emissão de metano. Enzimas como a fitase são geralmente usadas em alimentos para aves e suínos e estudos têm demonstrado que a glucanase e a xylanase podem ser usadas em dietas para ruminantes com o objetivo de melhorar a digestibilidade das fibras e a eficiência alimentar.
O hydroxy trace minerals, chamado de smart minerals (minerais inteligentes), também tem sido empregado na nutrição animal devido a sua biodisponibilidade, estabilidade para o rúmen e proteção contra antagonistas. E não podemos deixar de mencionar os óleos essenciais, prebióticos e probióticos, que vêm se desenvolvendo muito nos últimos anos.
O segmento pet é outro mercado que usa grãos energéticos em suas rações e com demanda crescente. Hoje, as estimativas apontam que são cerca de 80 milhões de gatos e cachorros no Brasil e para este ano a projeção é de que o faturamento do setor cresça 19%.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Sobre a evolução do uso dos coprodutos no fornecimento de energia nas formulações, o que pode ser dito?
Francisco Olbrich – O segmento de nutrição animal evoluiu muito nos últimos 10 anos e o uso de coprodutos é um universo conhecido dos nutricionistas. O desafio está na qualidade e na variação do nível proteico destes ingredientes como o gérmen de milho, farelo de arroz integral, farelo de trigo, polpa cítrica, casca de soja, aveia com casca etc.
É importante analisar todos os lotes desses coprodutos para ter segurança sobre os níveis nutricionais. O farelo de arroz integral e o gérmen de milho gordo, por exemplo, não podem ser armazenados por mais de 30 dias, pois há chances de oxidarem. A polpa cítrica, dependendo das condições de armazenamento, pode desenvolver fungos e dioxinas, só para citarmos alguns exemplos.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Em termos de pesquisa (corporativa e estatal) em desenvolvimento e inovações, como estamos posicionados?
Francisco Olbrich – Na minha opinião estamos bem posicionados, tanto no Brasil como globalmente, quando falamos em pesquisas, principalmente no segmento de animais de produção. As empresas privadas têm investido em pesquisas em conjunto com universidades públicas e centros de pesquisas como a Embrapa. Todos estão procurando por inovações que venham agregar valor em seus portfólios e, principalmente, para o produtor.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais os principais desafios no setor industrial quanto ao uso dos ingredientes energéticos?
Francisco Olbrich – As empresas vão ter que saber administrar a gestão de caixa, pois estamos enfrentando um período de inflação, juros altos e teremos que conviver com os elevados custos das matérias-primas. Evitar os estoques altos e saber o momento ideal de trocar o ingrediente nas fórmulas serão pontos importantes para manter a ‘saúde’ financeira. Muitas empresas têm produtos com fórmulas fixas não sendo possível uma substituição de ingredientes. Fazer uma análise rápida e precisa do valor nutricional de um ingrediente é muito importante, pois possibilita tirar o máximo proveito. Ou seja, os formuladores desempenharão cada vez mais um trabalho imprescindível, devendo conhecer bem os ingredientes energéticos e o limite de uso nas fórmulas.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais são as projeções para este mercado?
Francisco Olbrich – Apesar das perspectivas, em longo prazo, serem promissoras para o agronegócio no Brasil, na atual conjuntura econômica nacional e global, temos elevações das taxas de juros, escalada inflacionária em diversos países e previsão de recessão nos Estados Unidos, tudo isso em meio à invasão russa na Ucrânia, deixando o segmento um pouco mais turbulento. Ainda teremos pressão sobre os preços destes ingredientes energéticos no segundo semestre. No entanto, estamos em direção a uma desaceleração econômica que poderá levar a uma recessão na Europa, Estados Unidos e em outros países, devendo derrubar os preços destes ingredientes em 2023. As empresas devem (e vão) continuar procurando por alternativas para evitar o aumento de custos em seus produtos.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Qual a mensagem que gostaria de deixar?
Francisco Olbrich – As indústrias de rações devem continuar a investir em pesquisas para conhecer melhor os ingredientes e seus coprodutos, limites de inclusão e como armazená-los para evitar perdas nutricionais, assim como, em sistemas de análises precisas e rápidas, maximizando os custos das fórmulas e minimizando os riscos para os animais.
É importante lembrar que o Brasil é o país que mais tem condições de ampliar a oferta de alimentos, em um cenário de crescimento da população global e de evolução por parte desta população que busca um cardápio com produtos de maior valor agregado.
Por: Lia Freire
ENTREVISTA EXCLUSIVA DA REVISTA INGREDIENTES & NUTRIENTES – NUTRIÇÃO ANIMAL.
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