Zootecnista. Uma profissão de grande responsabilidade social e econômica
No Brasil, a primeira faculdade de Zootecnia foi fundada em Uruguaiana (RS), em 13 de maio de 1966, data em que se passou a comemorar o Dia do Zootecnista.
Os zootecnistas têm tido participação ativa e positiva no agronegócio, seja na melhoria do desempenho técnico dos rebanhos, seja na geração de resultados e na gestão de empresas de todos os elos da cadeia (insumos, produção, industrialização, distribuição e serviços). O profissional deve estar preparado para visualizar e entender os sistemas de produção de proteína animal de qualidade para a alimentação humana, contribuindo para a melhoria dos produtos gerados, sem deixar de lado o respeito ao bem-estar dos animais e ao meio ambiente, o que deve ser feito utilizando alternativas que não comprometam a viabilidade econômica e social.
Para falar sobre o papel do zootecnista na nutrição animal, a importância da assessoria técnica para a rentabilidade e crescimento do agronegócio e os desafios da profissão, entrevistamos o atual Presidente da Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ), Marinaldo Divino Ribeiro. “Ao longo dos anos tivemos quatro conquistas importantes: a expansão das nossas atribuições profissionais; a nossa contribuição para o desenvolvimento da pecuária nacional de forma relevante; a expansão significativa da oferta do ensino da zootecnia em nível de graduação e a quarta é a constituição de diretrizes curriculares implementadas em 2006 que constituíram uma nova roupagem na formação do zootecnista, conferindo novas habilidades e competências adequadas aos dias atuais.”
Revista Ingredientes & Nutrientes – Qual o papel do zootecnista na nutrição animal?
Marinaldo Divino Ribeiro – O zootecnista é o profissional mais bem preparado para atuar na nutrição animal, seja de pets, domésticos e silvestres, em qualquer estado de saúde. Isto porque em seu processo de formação ele estuda os alimentos, os nutrientes, as exigências animais, as técnicas de alimentação, a fisiologia e o metabolismo animal. Além disso, ele tem a capacidade de integrar o conhecimento da nutrição com o fator econômico da atividade para que seja feita com equilíbrio entre o desejável tecnicamente e o possível economicamente, de maneira sustentável.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Qual a importância da assessoria técnica para a rentabilidade e crescimento do agronegócio?
Marinaldo Divino Ribeiro – A importância está em integrar e aplicar conhecimento técnico de forma planejada, controlada e promotora no desenvolvimento da atividade produtiva. Dentre os aspectos básicos de qualquer sistema de criação de animais, o conhecimento e a informação profissional são essenciais para ter bons resultados.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Sobre os aumentos dos insumos (ingredientes para nutrição animal), qual seria o impacto na vida dos brasileiros? E o papel da indústria e dos técnicos neste contexto?
Marinaldo Divino Ribeiro – Muitos dos ingredientes usados na alimentação animal, como a soja e o milho, são commodities e a pressão das demandas e dos preços no mercado internacional podem levar a redução do abastecimento interno. Outros aspectos que impactam nos preços dos insumos são a redução da produção por questões ambientais e/ou a ampliação da demanda com desproporcionalidade ao volume produzido, que pode gerar elevação dos preços destes insumos. Independentemente da causa da elevação dos preços dos insumos, haverá o aumento no custo de produção dos produtos de origem animal, que invariavelmente é repassado ao consumidor, impactando na qualidade da alimentação e no poder aquisitivo destes produtos pelos cidadãos brasileiros.
Neste contexto, a indústria e os técnicos têm papel fundamental em disponibilizar fontes alternativas para compor as dietas animais e tornar mais eficientes os sistemas de produção com o aproveitamento destas fontes, sobretudo àquelas geradas por coprodutos ou resíduos da indústria agrícola ou de transformação de matéria-prima.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Como você chegou à presidência da Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ)?
Marinaldo Divino Ribeiro – Desde a graduação eu já militava na Zootecnia por meio do Diretório Acadêmico de Zootecnia (DAZ) Professor Octávio Domingues, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) onde fiz minha graduação. No diretório fui o segundo tesoureiro, depois presidente. Em 1998 conheci a ABZ quando fui participar do Congresso Brasileiro de Zootecnia (ZOOTEC) em Recife (PE). Depois dei uma pausa na representação e militância para fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Já em 2008, ao ingressar como docente efetivo na Universidade Federal de Mato Grosso, voltei a militar nas causas coletivas da Zootecnia e em 2010 fui eleito presidente do Comitê Organizador do ZOOTEC. De 2015 a 2017 fui Conselheiro Suplente por convite na gestão da Zootecnista, Célia Regina Orlandelli Carrer e ao final deste período surgiu a oportunidade, circunstancial e política, para apresentar e liderar um grupo para a gestão da ABZ, tendo sido eleito em 2017, com o exercício de mandato em andamento até agosto de 2021.
Revista Ingredientes & Nutrientes – O que significa para você ocupar esta posição?
Marinaldo Divino Ribeiro – Se puder definir em três palavras seria: honra, responsabilidade e trabalho. Honra, porque dentre os 35 mil profissionais e 21 mil alunos de graduação em Zootecnia ser o presidente da entidade que os representa torna um distintivo que confere ao ser humano a honra de os liderar. Responsabilidade, porque exige ética profissional, diálogo e capacidade de integrar pessoas em projetos e ações de interesse do coletivo, aplicando os princípios da governança dos recursos. Trabalho, porque a representação institucional, ser proativo e propositivo é fazer pelo todo, é defender os interesses coletivos pactuados nos espaços de tomada de decisão democráticos, é preocupar-se com a educação em Zootecnia em todos os níveis de formação, e, por fim, apresentar resultados.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Na presidência da ABZ quais vêm sendo as frentes trabalhadas?
Marinaldo Divino Ribeiro – A atuação se dá em diversas frentes, todas com o objetivo de elevar o patamar da representatividade institucional e promover a profissão do zootecnista e da ciência Zootecnia perante a sociedade, as esferas de poder e órgãos ou instituições onde se insere a atividade, dentre elas destacam-se:
1) a promoção da congregação de estudantes e profissionais por meio de eventos, ações e projetos coletivos como o Congresso Brasileiro de Zootecnia, o Fórum Nacional de Entidades de Zootecnistas, o Fórum Nacional de Ensino de Zootecnia e o Fórum Nacional de Estudantes de Zootecnia;
2) a defesa efetiva dos interesses dos zootecnistas por meio de expedientes judiciais, proposição de projetos de lei e vigilância a projetos de lei que impactam negativamente no ambiente de trabalho;
3) o reconhecimento de mérito de pessoas, por meio de premiações institucionais como: os Zootecnistas mais Influentes do ano, outro Olhar Zootécnico de Fotografia, Zootecnista do Ano, Zootecnista Educador, Coordenador do Ano e Estudante DEZ, a criação da plataforma colaborativa chamada portfólio de especialistas, os projetos Prosa com Zootecnista, A Zootecnia que não para, o Projeto Ethos e a produção de conteúdo com profissionais Zootecnista de referência nas diferentes áreas do campo de saber da zootecnia socializados por meio dos canais institucionais;
4) a promoção da educação em Zootecnia por orientações às escolas, reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem e valorização do Fórum Nacional de Ensino de Zootecnia como instância de promoção da educação em Zootecnia no país;
5) a gestão com governança, por revisão estatutária, estabelecimento de novo organograma de gestão administrativa, adequação de sede, dinâmica de reuniões e assembleias, normatização de procedimentos, recomposição completa do portal da ABZ (composto pela página, sistema de sócios e o aplicado integrado e-zoo), criação da carteirinha digital para os sócios (e-zoo), criação e manutenção de redes sociais, grupos de trabalhos, normatização de uso e aplicação de recursos financeiros a entidade e o resgate da memória da ABZ e da Zootecnia brasileira.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais foram as principais conquistas que você destacaria desde que assumiu a presidência?
Marinaldo Divino Ribeiro – A integração de pessoas e instituições, a vinculação de órgãos institucionais ao organograma de gestão da ABZ, como a ABZ Jovem, a garantia de apoio jurídico aos profissionais, a criação de portfólio de benefícios para os sócios, o alcance da comunicação da ABZ com seu coletivo e a sociedade, a disponibilização de informação aos pares, a defesa do ambiente de trabalho do profissional zootecnista, o resgate da memória institucional da entidade e da Zootecnia brasileira, a interação com os pares de outros países e, talvez, a mais importante, que é a garantia de que é possível ser feliz como zootecnista.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Como funciona o trabalho da ABZ? Como a Associação pode contribuir com o agronegócio brasileiro?
Marinaldo Divino Ribeiro – A ABZ é uma entidade de classe que zela pelo ambiente de trabalho do zootecnista, cuida da formação do profissional e contribui, sempre que possível, com as instituições reguladoras ou de tomada de decisão do agronegócio. Nossos profissionais participam de câmaras ou comissões setoriais em diferentes órgãos e esferas de poder, apresentam contribuições às consultas públicas nas temáticas de escopo da sua competência, atuam em diferentes instituições públicas, privadas e do terceiro setor com o objetivo de promover a criação de animais, gerar conhecimento, inovação e tecnologias aplicadas às diferentes cadeias produtivas e presta serviços de qualidade aos produtores rurais. Assim, pode-se afirmar que se o agronegócio do Brasil hoje se destaca em competividade no cenário internacional é porque tem há 52 anos a efetiva contribuição do profissional zootecnista dentro de sua expertise, os quais são capitaneados pela ABZ.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Tem alguma ação que ABZ realiza para levar conhecimento aos técnicos de campo para difusão de novas tecnologias?
Marinaldo Divino Ribeiro – Não, essa não é a missão institucional da ABZ diretamente, mas indiretamente muitos dos seus profissionais têm feito esta atividade por meio da realização de dias de campo, criação de blogs de produção e socialização de conteúdos e orientações (os chamados zootecnistas influenciadores), palestras de popularização do saber em Zootecnia e reuniões de difusão do conhecimento em sua rotina e espaço de atuação.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais são os desafios enfrentados no trabalho realizado por vocês, zootecnistas?
Marinaldo Divino Ribeiro – A inexistência de um conselho de classe e o estabelecimento de normativas por diferentes órgãos nacionais e estaduais que impactam negativamente o ambiente de trabalho do zootecnista de forma inconstitucional, imoral e ferindo o princípio constitucional da liberdade do trabalho prevista no art. 5º, inciso XIII, da Constituição Federal do Brasil.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Gostaria de deixar uma mensagem para o mercado?
Marinaldo Divino Ribeiro – Acredite e contrate o zootecnista. É um profissional com capacidade de agregar valor e diferencial ao seu negócio.
No Senado, novo PL propõe adequações à Lei 5.550/68 a favor da Zootecnia
Começou a tramitar no Senado Federal o Projeto de Lei 1428/2021, de autoria do senador Zequinha Marinho (PSC-PA), que prevê a adequação da Lei 5.550/1968, que regulamenta o exercício da Zootecnia no Brasil. A proposta foi articulada pela Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ), a partir de decisão coletiva tomada no último Fórum Nacional de Entidades de Zootecnistas.
A proposta tem como objetivo corrigir uma anomalia na legislação vigente, sem prejudicar o direito de outras categorias profissionais a exercerem determinadas atividades relacionadas à criação de animais. Em resumo, o PL propõe a adequação da alínea “c” do art. 2º da Lei no 5.550/68, de forma a demandar complementação de formação específica em Zootecnia para agrônomos e veterinários tornarem-se aptos a exercerem a profissão de Zootecnista.
Para o senador, tal modificação é necessária frente ao fato de que as matrizes de componentes curriculares previstas nas diretrizes curriculares das duas profissões são insuficientes para o exercício das habilidades e competências adquiridas pelo profissional zootecnista em seu processo de formação.
“Não queremos impedir ou proibir o Médico Veterinário ou Agrônomo ou qualquer outra categoria profissional que atua com o agronegócio de atuar na criação e ou produção de animais, mas sim de garantir à adequada prestação de serviços à sociedade por profissionais qualificados, isto é, que tenha a devida correspondência de formação e competência equivalente aos Zootecnistas”, detalha Marinaldo Divino Ribeiro, presidente da ABZ.
O projeto oferece também nova redação ao art. 3º, cujo caput passará a enumerar atribuições dos zootecnistas, ainda que também possam ser exercidas por outros profissionais de ciências agrárias.
“Ademais, não é legítimo e benéfico ou justo para a sociedade e o Brasil como grande produtor mundial de proteína animal que profissionais com formação insuficiente desempenhem satisfatoriamente às exigências de um segmento econômico crescente de forma adequada, o que poderá trazer sérios prejuízos econômicos ao produtor e ao país”, diz um trecho da justificativa do projeto.
Fonte: Associação Brasileira de Zootecnistas.
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