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Entrevista com Jason McAlister, fundador da consultoria em programas de bem-estar animal

Um olhar diferenciado sobre o bem-estar animal

Por: Lia Freire

Em sua mais recente visita ao Brasil para visitar importantes players, o engenheiro Jason McAlister, fundador da empresa de consultoria em programas de bem-estar animal, Cloverleaf Strategies, sediada nos Estados Unidos falou com a nossa redação e conta a sua trajetória neste mercado, o seu olhar sobre o Brasil e os serviços que oferecerá no país, onde manterá uma estrutura.

Revista Graxaria Brasileira – Quando teve início a sua história com o universo do bem-estar animal?

Jason McAlister – Estou neste mercado há 30 anos, comecei em uma posição bem básica até me tornar executivo de um grupo com importante atuação neste tema.

Trabalhei em várias frentes: com animais vivos, na compra e venda, no transporte e demais áreas até que fui trabalhar no Comitê de bem-estar animal do North American Meat Institute (NAMI) onde exaltava que um pequeno produtor poderia implantar um programa de bem-estar animal tão bom e eficiente quanto uma grande empresa e, não importa o tamanho da companhia, todos devem e precisam ter o seu. Percebi que havia muito interesse em aprender e implementar o conceito do bem-estar animal e não apenas nos Estados Unidos, mas mundialmente.

Revista Graxaria Brasileira – Quando surgiu seu interesse pelo Brasil?

Jason McAlister – O Brasil é um importante player global. Produtor de proteína para o mundo. Além disso, vejo que aqui há interesse em seguir as tendências globais para melhorar os processos.

Revista Graxaria Brasileira – Como funciona o programa de bem-estar animal oferecido pela Cloverleaf Strategies e todo o processo de consultoria disponibilizado?

Jason McAlister – Oferecemos um programa de bem-estar animal que engloba o conceito: from beginning to end”, ou seja, abordamos todo o sistema que visa o bem-estar animal, desde a fazenda, a criação do animal, o manejo, o seu transporte para o frigorífico até o seu abate. Temos especialistas em todos os grupos animais e proteínas. O programa é revisado constantemente por mim e por Temple Grandin, uma grande parceira e para quem não conhece, uma sumidade internacional no assunto bem-estar animal.

O trabalho consiste em um amplo levantamento das necessidades e dos interesses das empresas, após essa minuciosa análise preparamos um relatório apontando o que precisa ser melhorado, implantado e mostramos os caminhos, direcionando cada tema. Indicamos como implementar, capacitar e treinar os colaboradores envolvidos, como obter continuamente melhorias e, muitas vezes, usando o que já existe na empresa, sem precisar partir do zero, com melhorias para um melhor resultado do programa de bem-estar animal.

Apresentamos um novo cenário e ajudamos a desenhar e manter a performance de um programa consistente em toda a cadeia. Trabalhamos na revisão do processo, além disso, promovemos auditorias presenciais e online. Em um programa de bem-estar animal tudo mundo a todo instante, por isso é preciso se adequar frequentemente. Esse é o motivo pelo qual realizamos o monitoramento do processo.

Revista Graxaria Brasileira – Quais são os treinamentos oferecidos?

Jason McAlister – Vale lembrar que o bem-estar animal depende do envolvimento das pessoas, por isso priorizamos a capacitação e o treinamento que deve ser uma ação contínua até porque pessoas entram e saem das empresas, sendo preciso torná-las aptas e constantemente passar novas informações já que o programa é bastante dinâmico.

Uma vez que a empresa chega na meta que impôs é preciso manter este padrão, para tanto, os treinamentos são imprescindíveis. Promovemos a capacitação do gestor do programa de bem-estar animal, Animal Officer Certification, um programa reconhecido internacionalmente, inclusive exigido por algumas cadeias de fast food da Europa aos frigoríficos com os quais trabalham. Como o Brasil exporta para a Europa essa é uma exigência que está batendo à porta. Não basta ter o programa, é preciso ter o líder do programa treinado. Essa tendência vem para o Brasil.

Também temos programas para treinar as pessoas que fazem os manejos nas fazendas, no transporte, na recepção dos animais, no controle de qualidade até no momento do abate. Treinamos a cadeia toda em um trabalho de múltiplas rechecagens.

Revista Graxaria Brasileira – Qual a estrutura que manterá no Brasil?

Jason McAlister – Tenho duas pessoas no Brasil que entendem a cultura, o idioma, a maneira de trabalhar das empresas locais para que representem a minha empresa. O trabalho seguirá as regras internacionais e eu estarei no Brasil quantas vezes forem necessárias.

Revista Graxaria Brasileira – Qual o conceito de bem-estar animal. O que ele contempla?

Jason McAlister – A Temple Grandin falou algo há muito tempo que me tocou. “O animal está aqui para nos fornecer alimento, então temos a responsabilidade de cuidar dele em toda a cadeia, desde quando nasce até o momento do abate.” Se falharmos em alguma parte da cadeia, falhamos no bem-estar animal. Temos que respeitar e cuidar do animal em toda a cadeia. Temos que prover o melhor estilo de vida possível e respeitá-lo. Essa é a base do meu trabalho.

Revista Graxaria Brasileira – Em relação ao cenário mundial como você analisa a questão do bem-estar animal?Estamos diante de uma forte e irreversível tendência?

Jason McAlister – Tem empresas que realizam um trabalho muito bom e tem tantas outras que desejam implementar ou melhorar o programa, independente do porte. Hoje, o consumidor final está muito ligado a essa questão do bem-estar animal, ele exige da empresa este posicionamento e tem acesso a muita informação. Se as empresas fazem um excelente trabalho, ótimo, do contrário, irão amargar prejuízos e mancharão a sua imagem. O que percebo é que o alto escalão vem pedindo a implementação deste programa para atender uma necessidade de clientes e do mercado. O que me deixa feliz porque é o que sei e amo fazer.

Revista Graxaria Brasileira – Além das razões óbvias para se manter este compromisso de bem-estar animal, as empresas também podem se beneficiar em quais outros aspectos?

Jason McAlister – Primeiro, o bem-estar animal é o correto. O que deve ser feito, o que significa respeitar o animal ao longo de sua vida. Como consequência há uma melhoria na qualidade das proteínas oferecidas (cor, textura, sabor e shelf life) e, consequentemente no resultado da empresa. Além disso, tem a questão da proteção da marca (brand protection) e da imagem da empresa. Estamos aqui para alimentar o mundo e trabalhar para a evolução de uma indústria que consiga alimentar o mundo adequadamente, adotando um programa de bem-estar animal.

Revista Graxaria Brasileira – Você teve uma experiência bastante interessante e inusitada, quando entrou em um caminhão de suínos para entender a razão pela qual eles chegavam machucados e estressados. Como foi esta experiência?

Jason McAlister – Essa foi realmente uma experiência inusitada e enriquecedora, que trouxe grandes aprendizados e resultados. Eu desejava entender a razão pela qual os porcos chegavam doentes e machucados, situação muito similar, quando não pior, acontecia no Canadá para onde eu também fui. Mas, voltando para a minha experiência nos Estados Unidos. Eu percorri no inverno um trajeto de 300 km juntamente com os porcos para observar o que acontecia durante o transporte. Na noite anterior fui com o caminhão vazio, em um percurso de 100 km, para também avaliar o que ocorria.

Após um refinado monitoramento identifiquei que a disposição das entradas de ventilação no caminhão estavam posicionadas de maneira que criavam um redemoinho bem ao centro e isso fazia com que os porcos sentissem muito frio e passassem mal. Bastou mudar tais disposição para salvar milhares de porcos. Todos os caminhões nos Estados Unidos e Canadá mudaram a configuração das entradas de ventilação.

O que aprendi com essa situação é que às vezes não é preciso realizar alto investimento para resolver o problema. Tem que investir em tempo para entender a causa, ou então, ficará buscando soluções equivocadas e gastando dinheiro. Muitas vezes são pequenos ajustes.

Revista Graxaria Brasileira – Como foi o seu encontro com a Temple Grandin e como é ter uma autoridade mundial como parceira profissional?

Jason McAlister – Conheci a Temple Grandin há 25 anos quando ela foi dar um treinamento em uma planta que eu trabalhava. Ao final ninguém entendeu nada do que ela disse. Na imaturidade profissional, nem eu compreendi, mas apliquei imediatamente os ensinamentos e funcionou! A partir de então, eu me tornei um admirador do seu trabalho e mesmo sem frequentar os seus cursos, eu mergulhei de cabeça em seus livros e todo material disponibilizado, ligava e conversava com ela para tirar as dúvidas. Ela sempre diz que fui o estudante (não oficial) mais aplicado. Quando entrei no NAMI começamos a ter uma proximidade profissional e percebi que tínhamos o mesmo olhar sobre o tema bem-estar animal. Por conta do seu autismo muitos têm dificuldades de manter uma comunicação com ela, mas nós temos uma ótima relação e somos mais do que parceiros profissionais, somos grandes amigos.

Revista Graxaria Brasileira – Sobre a certificação da cadeia como funciona?

Jason McAlister – Entramos em contato com a empresa para entender e analisar a cadeia como um todo e se é passível de certificação. Um trabalho minucioso já que as empresas têm processos distintos, não havendo um check list únicos. Basicamente a validade da certificação é anual, mas há alguns pontos e aspectos da cadeia que podem ser reavaliados com mais frequência para que a empresa continue utilizando o selo da certificação.

Revista Graxaria Brasileira – Quais as expectativas para o mercado brasileiro e que mensagem gostaria de deixar?

Jason McAlister – Eu acredito verdadeiramente que o Brasil tem potencial para ser líder mundial de proteína e líder mundial de programas de bem-estar animal. Desejo acompanhar esse movimento e contribuir para que melhorias sejam feitas. Juntos podemos construir no Brasil um futuro melhor sobre este tema.

ENTREVISTA EXCLUSIVA DA REVISTA RECICLAGEM ANIMAL – GRAXARIA BRASILEIRA.
PROIBIDO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL SEM AUTORIZAÇÃO DA EDITORA STILO

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