“Para atingirmos a excelência é preciso inovar”
Filho de agricultores do oeste do Paraná, Ednilson Zotesso Fávaro, iniciou na década de 90 sua carreira profissional em fábricas de ração e de lá para cá tem se dedicado a buscar melhorias e aprendizado. Formado em engenharia de produção, com MBA em vendas estratégicas e resultados de alta performance, em 2019 foi convidado a atuar também como professor convidado em pós-graduação de Gestão da Qualidade em fábricas de rações. Em 2004 iniciou um trabalho de busca pelo desenvolvimento de tecnologias, produtos, recursos e métodos para melhorar a qualidade das rações produzidas, abordando todos os aspectos físico-químicos e microbiológicos. “Esta é a minha paixão e está embasada no fato da sua representatividade na cadeia agropecuária”, afirma Fávaro.
Para falar sobre as soluções conservantes para as rações, assunto que é destaque nesta edição da Revista Ingredientes & Nutrientes, entrevistamos Fávaro, que por toda a sua trajetória e larga experiência traz um olhar bastante provocativo sobre o tema. Confira!
Revista Ingredientes & Nutrientes – Qual é a realidade brasileira em relação ao desenvolvimento e a oferta das soluções em conservantes utilizados nas rações animais?
Ednilson Zotesso Fávaro – Hoje, temos diversos tipos de conservantes, muitas empresas e soluções. A oferta é grande, porém muitas vezes existe uma interpretação equivocada de que esses produtos irão resolver muitos dos problemas. Essa é uma visão bastante equivocada, pois a solução sem uma aplicação adequada ou sem uma operação técnica ajustada não faz milagres.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais os tipos de conservantes mais procurados pela indústria de rações animais e quais as razões por tais demandas?
Ednilson Zotesso Fávaro – Normalmente, o controle antifúngico tem como característica principal a associação de ácidos propiônicos e propionatos de amônia, podendo estar associado a tensoativos e emulsificantes mono e diglicerídeos. Estas demandas se dão pela comprovada eficiência e custo “aceitável” por parte das fábricas. No caso do controle de salmonelas, o carro-chefe ainda é o formaldeído, mas apesar da eficiência comprovada ele carrega uma carga elevada de riscos, fazendo com que a tendência seja a sua retirada. Nos grãos age no efeito e não na causa, portanto, os tratamentos preventivos são pouco utilizados ou são feitos em subdosagens, não se obtendo a efetividade desejada.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Sobre as tendências o que vêm despontando neste mercado?
Ednilson Zotesso Fávaro – No segmento de conservantes temos um período de poucas evoluções, talvez a maior delas seja a utilização de fórmulas personalizadas para cada tipo de desafio. A junção de tratamentos como fúngico e bacteriano com bases tradicionais tem se lançado como uma alternativa, porém não caracteriza uma grande inovação, apenas um ajuste na fórmula.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais os principais avanços quando nos referimos a este segmento de mercado?
Ednilson Zotesso Fávaro – Acredito que o uso de emulsificantes mais avançados e eficientes, somado ao uso de blends de algas e a utilização de combinações, com partículas cada vez menores, representam o que há de mais moderno neste segmento.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Em relação às pesquisas para este setor de soluções em conservantes, como avalia os trabalhos realizados no Brasil e no mundo?
Ednilson Zotesso Fávaro – No Brasil, apesar dos esforços não tenho verificado muitas novidades. Em nível acadêmico sim, com o uso de diferentes moléculas e de conceitos avançados, porém este é um mercado tradicional que ainda olha muito o custo. No mundo, a aplicação de aditivos é uma realidade e existem avanços. Participo de uma equipe altamente especializada que vem buscando alternativas avançadas para o setor e, nos últimos 8 anos, teve uma virada de chave. Novidades podem chegar a qualquer momento e, na Europa, já tenho testado e colocado isso em prática há mais de três anos com uso em escala.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais os desafios quando falamos no desenvolvimento dessas soluções que visam a conservação dos alimentos?
Ednilson Zotesso Fávaro – Acredito que o principal desafio esteja nos paradigmas do mercado. Somos conservadores e raramente gostamos de ser os primeiros a testar, o que dificulta o desenvolvimento em larga escala.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Para atingirmos a excelência no assunto (se é que ainda não atingimos), o que precisamos?
Ednilson Zotesso Fávaro – Para atingirmos a excelência é preciso inovar em todos os sentidos, desde as formas de aplicação, serviços, tamanho e tipo de moléculas. O futuro é agora, as soluções já estão em grande parte desenvolvidas, mas precisam sair dos polos acadêmicos para a prática.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Sobre o futuro deste mercado de soluções conservadoras, qual a sua avaliação?
Ednilson Zotesso Fávaro – As soluções funcionaram até agora, é verdade! Mas, precisam evoluir. É fundamental buscar formas mais eficazes e, muitas vezes, menos agressivas, mais seguras ao operador, meio ambiente, animais e equipamentos. Acredito, por tudo que tenho visto e trabalhado através de comparativos e de desenvolvimento, que a nanotecnologia substituirá muitos produtos que temos atualmente e em um futuro não muito distante.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Quais as orientações para as empresas de rações que precisam investir nas soluções?
Ednilson Zotesso Fávaro – Para lançar mão deste tipo de tecnologia é preciso ter números e processos muito bem controlados. É fundamental ter o real custo da qualidade ou, o que é pior, o “custo da falta de qualidade”. Devoluções, reprocessos, baixa eficiência de fábrica e índices de qualidade abaixo do esperado são o pesadelo de qualquer gestor de fábrica. Teste e acompanhe os indicadores, tenha uma equipe técnica qualificada. Procure ajuda, nenhuma empresa sobrevive quando tem perdas em um mercado tão ajustado e competitivo.
Revista Ingredientes & Nutrientes – Poderia deixar uma mensagem para o mercado?
Ednilson Zotesso Fávaro – Acredito que o mercado tem evoluído e aprendido muito. A prova disso são os resultados zootécnicos, a nutrição de precisão e todo o melhoramento genético e de manejo. As fábricas de rações precisam olhar para o momento atual e investir em tecnologias, inovações, capacitação de pessoas, processos e produtos. Sem dúvidas, buscar a máxima eficácia deste processo proporciona diferenças brutais nos resultados da companhia. Temos pesquisado muito a área de nanotecnologia, de produtos naturais e de combinações avançadas, estas inovações chegarão a qualquer momento no mercado para atender apelos dos mais diferentes segmentos, desde ambientais até mitigação ou eliminação completa de riscos operacionais, passando principalmente pela maior eficácia e redução de doses, melhorando custos e resultados. Pense nisso, toda evolução precisou de um primeiro passo!
“As soluções já estão em grande parte desenvolvidas, mas precisam sair dos polos acadêmicos para a prática”, Ednilson Zotesso Fávaro.
Por: Lia Freire